terça-feira, 25 de setembro de 2012

Obsessão pelo corpo perfeito



Obsessão pelo corpo perfeito

Todo mundo já se pegou algum dia à frente do espelho reclamando do nariz que é muito grande, do cabelo que é crespo ou liso demais, da altura que poderia ser um bocadinho a mais ou a menos, da barriga que insiste em não diminuir. Estar insatisfeito com a própria imagem é normal até que ultrapasse o limite do aceitável e passe a ser uma preocupação obsessiva com formas perfeitas e insatisfação permanente com o próprio corpo, ocupando os pensamentos e comportamentos da pessoa na maior parte do dia.
Estes são sintomas de uma doença que só recentemente (1987) começou a ser estudada a fundo pela Associação Psiquiátrica Americana, que lhe deu um nome um tanto complicado: desordem dismórfica do corpo, ou DDC.
Pequenas imperfeições como culotes, manchinhas na pele ou músculos pouco proeminentes, que outras pessoas convivem sem muitas dificuldades, para aquelas que sofrem desse distúrbio viram fonte da mais profunda angustia e vergonha. Elas são incapazes de se aceitar dessa maneira, pois acreditam serem portadoras de enormes defeitos que as diferenciam e as impedem de ser iguais aos outros.  Sentem como se todo mundo reparasse nos seus defeitos, pois acreditam que eles chamam demais a atenção. Na verdade, só elas não percebem que tudo é fruto da própria fantasia.
Como resultado, tornam-se escravos de exercícios físicos, de dietas ou cirurgias plásticas e procuram esconder e disfarçar a todo custo determinadas partes do corpo, com roupas largas, mangas compridas, algumas jamais usam um vestido ou shorts, pois não aceitam uma imagem que seja diferente da perfeição de uma Barbie ou de um Ken (o namorado da Barbie).

Num estágio mais avançado, o paciente corre o risco de desenvolver depressão, fobia social (não sai mais de casa) e transtornos alimentares (anorexia – não come ou bulimia – come, mas depois tenta se livrar das calorias ingeridas, provocando o vômito ou malhando em exagero), além, de apresentar comportamentos compulsivos (controla exageradamente as calorias que ingere, tenta ultrapassar os limites do corpo nos exercícios, não sai de casa sem antes checar cada milímetro de sua aparência, passa horas à frente do espelho, mas está sempre inseguro com respeito a sua imagem).
Apesar de só ter sido recentemente nomeada, desde o século XIX casos semelhantes foram registrados, mas naquela época, recebiam o nome de “feiúra imaginária”. 

Esta doença se desenvolve durante a adolescência, mas devido à dificuldade de identificá-la como tal, a maioria dos pacientes só procura ajuda quando já está com 40 ou 50 anos. Portanto, precisamos ficar de olhos bem abertos com relação aos nossos filhos adolescentes e discernir quando a insatisfação com a própria imagem descamba para o patológico.
Importante é perceber que a DDC não pode ser caracterizada, apenas porque pessoas se preocupam com o peso e a musculatura. Ser vaidoso e zeloso da própria aparência, não é pecado. Faz-se necessário que elas tenham simultaneamente vários comportamentos já citados e que se perceba que elas sofrem muito por causa da imagem, deixando de viver normalmente em prol de um perfeccionismo que nunca vai ser alcançado, pois é irracional.

A causa deste distúrbio pode ter origem múltipla, como modificações da química do cérebro, fatores psicológicos e sócio-culturias.
É verdade que a sociedade de hoje oprime homens e mulheres quando propõe como sinônimo de beleza, medidas corporais irreais que estão fora do alcance da maioria da população. Este modelo contamina até crianças, que imitando o comportamento dos pais se preocupam com coisas que não deveriam fazer parte do universo infantil. Mas, desorienta principalmente os adolescentes que por estarem em fase de transformação tanto física quanto psíquica, sofrem demais na busca da imagem ideal. Acreditam eles que só assim serão aceitos socialmente e fantasiam, principalmente as meninas, poderem se transformar em top models famosas, que além de bonitas são também profissionais muito bem sucedidas economicamente. Esta é a grande ilusão que algumas jovens mesmo sem os atributos físicos adequados perseguem sem cessar.
São mais predispostos a esta doença, indivíduos que traduzem sua baixa auto-estima em perfeccionismo. Pessoas perfeccionistas acreditam que só sendo perfeitos serão dignas de ser amadas.  Passam a seguir um modelo cuja referência não está dentro delas e sim fora, na moda, nas outras pessoas, pois são os outros que irão dizer a elas se estão à altura da perfeição que perseguem. Nunca se permitindo ser elas mesmas, mas sempre uma cópia do que elegem como certo. Desta maneira, passam a vida se esforçando e ao mesmo tempo se recriminando pela incapacidade de estar à altura de suas aspirações. Ao fazer isso, lutam por alguma coisa que está acima delas, em vez de procurarem saber o que realmente existe dentro do próprio ser. 
Para o tratamento, recomenda-se psicoterapia onde o paciente será convidado a fazer uma jornada para dentro de si mesmo. Então, à medida que vai conhecendo como ele realmente é, e descobrindo como ser verdadeiro com ele mesmo, paulatinamente vai percebendo que pode deixar de lado toda e qualquer idéia predeterminada que ele tinha e que o mantinha cativo. Isso significa responder algumas perguntas como: O que eu realmente quero fazer? O que meu coração ama? O que eu quero aprender? Para onde eu quero ir?  Assim procedendo vai reaprendendo a fazer escolhas honestas que têm a ver com o que ele realmente deseja, usando mais frases tais como: “Eu quero o vermelho e não o branco, quero este tipo de roupa e não aquela...

Irá aprendendo que aceitar os próprios defeitos é o primeiro passo para começar a se amar e aceitar e amar aos outros. Aprenderá que os defeitos, assim como as qualidades fazem a singularidade de cada um e que quanto mais natural e espontâneo ele for, mais perto da perfeição estará, pois perfeição é tudo que é completo e íntegro.

Além do que, já pensou que tédio se fôssemos todos iguais???

Nenhum comentário:

Postar um comentário